Finalmente, depois de alguns anos seguidos nos quais apenas as animações demonstravam um mínimo interesse que fosse em tentar nos brindar com algo mais sensível e menos técnico, surge um filme que consegue suprir esta carência que me atormentava desde o fabuloso Apenas Uma Vez.
Namorados Para Sempre nos força a assistir aquela velha história que sabemos já termos visto algum dia em algum lugar. E, neste aspecto, qualquer semelhança não é apenas mera coincidência. O casal Dean e Cindy (Ryan Gosling e Michelle Williams) passam por um momento tumultuado no casamento. Por mais que se esforcem para tentar esconder a crise da pequena Frankie (Faith Wladyka), a constante bebedeira, as inúmeras frustrações acumuladas e os anos de convivência os levarão a questionar, duramente, se devem ou não permancer casados.
Analisando, superficialmente, esta pequena sinopse que escrevi, nada parece muito novo nem original. Porém, o que faz com que o longa seja brilhante e tocante é a maneira como os personagens são construídos e a sensível forma como a história é contada.
Buscando sempre nos fazer testemunhar paralelamente e, conseqüentemente, comparar os momentos de crise vividos no presente com os momentos mágicos de amor e paixão vividos no início do relacionamento, o diretor Derek Cianfrance, mesmo que, eventualmente, exagere na obviedade de alguns planos e elipses, acerta em sua escolha por esta tornar ainda mais angustiante o ato de observar o estado em que o casal se encontra hoje, tendo como padrão comparativo justamente o período mais romântico da história de todos os casais.
Dean nos é apresentado como um homem ainda jovem, mas que aparenta ter mais idade do que de fato tem. Sua calvície precoce, seu permanente estado conformativo e o vício em álcool (usado corretamente de maneira sutil) nos fazem questionar como teria ele conseguido conquistar o coração da bela Cindy. Aí, então, somos apresentados ao seu álter-ego: o de jovem multi-talentoso que, mesmo tendo fracassado nos estudos, compensava com sobras esta "falha", através do seu carisma, simplicidade, companheirismo e, acima de tudo, sua sensibilidade. Esta última nos é mostrada numa comovente cena em que, após transportar os móveis de um senhor idoso, cuidadosamente ele os organiza de maneira extremamente hábil e sensível, demonstrando, com isso, estar atento humanamente a tudo e todos que se encontram ao seu redor.
Já Cindy é mostrada, inicialmente, com uma postura sempre distante e impaciente. Visivelmente amargurada, aos poucos vamos desvendando as razões que a levaram a se transformar de jovem sonhadora à mãe frustrada. Os problemas familiares, a evidente decepção profissional (jamais mencionada, mas facilmente notada), e uma intolerância absoluta com o estado em que o marido se encontra, fazem de Cindy a esposa dos pesadelos de qualquer homem. Jamais se mostrando disposta a resolver, de fato, a situação, ela parece, desde o início, ter plena certeza de que o futuro deve ser trilhado pelos dois de maneira separada. E, por mais que Dean se mostre sempre esforçado em buscar argumentos no sentido contrário a este (mesmo que de maneira atrapalhada), ela jamais aparenta estar aberta a se sensibilizar com eles, deixando, inclusive, a impressão de que existem mais razões para todo aquele rancor, além das que o filme já menciona.
Contando com uma montagem extremamente precisa que contribui, absurdamente, para que se fosse alcançado o efeito devastador que o tempo implicou ao casal, o filme não apenas nos surpreende pela magnífica análise de personagens que se propõe a fazer, mas, mais do que isso, por não buscar a redenção à todo custo - o que colocaria todo o projeto a desabar - a obra nos dá uma visão crua, dura e dolorosamente real do que a convivência e o dia-a-dia são capazes de causar. Mesmo o aparentemente brega título em Português não deixa de ser uma mensagem acertada sobre o que de fato deveria ser o ideal a ser alcançado para qualquer casal do planeta: descobrir a fórmula de se tornarem namorados para sempre.
Ah, estava com muitas saudades de ver uma cena singela e bela como esta, sem que os personagens fossem desenhos animados.
OSS!
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