domingo, 13 de maio de 2012

O SOM DO CORAÇÃO #1: OSWALDO MONTENEGRO

Dizem que ao fazermos as mesmas coisas, sempre encontraremos os mesmos resultados.

Ok!

Em se tratando de Oswaldo Montenegro, não me importo.

Teatro Pedro II - 10 de Maio de 2012
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"De que tipo de música você gosta?"

Taí uma simples pergunta feita, frequentemente, a fim de conhecer mais sobre os gostos de uma pessoa, que eu nunca soube bem como responder. Porém, mais difícil ainda do que respondê-la, é tentar falar um pouco sobre música.

Gosto de conversar sobre cinema. Não sou nenhum especialista no assunto, mas há um bom tempo busco aprender e me manter sempre informado sobre tudo o que se passa no mundo da sétima arte. Isso torna a tarefa um pouco menos árdua e, certamente, menos vergonhosa. Agora, quando o assunto em pauta é música, tenho pouca argumentação, o que me leva, constantemente, a ser guiado pelo sentimento que aquele determinado som provoca em mim, impossibilitando-me, assim, de proferir análises mais técnicas e detalhadas a respeito do assunto.

Em contrapartida, haveria maior e mais importante atestado de qualidade para uma obra, do que o efeito que ela nos causa ao ser admirada? Creio que não. Independente de que tipo de arte estivermos observando, seja um filme, um quadro, uma música ou um livro, a mais pura forma de aferirmos o quanto gostamos daquilo, consiste em nos deixarmos levar pelo quanto fomos sensibilizados e, para isso, não há necessidade de ser especialista.

Estou certo de que, quanto mais conhecimentos adquirimos acerca de um determinado assunto, mais criteriosos e rigorosos nos tornamos. Tratando-se de música, uma simples e agradável combinação de acordes pode parecer algo genial para um ouvido menos treinado ou apenas, o que de fato são, simples acordes, para outro mais treinado. Contudo, não há rigor e critério que não desmoronem quando se deparam com algo realmente bom. Sabemos estar diante de algo assim quando, mesmo sem saber os "porquês", sentimo-nos profundamente hipnotizados por aquilo que estamos observando. Creio que poucas vezes (ou nunca) a Monalisa escutou de algum dos seus observadores: "Nossa! Que horrível!". Assim como os espectadores de O Poderoso Chefão, mesmo que não gostem do estilo do filme, jamais questionariam o espetacular nível de atuação alcançado por Marlon Brando. Tratam-se de obras-de-arte inquestionáveis que, mesmo desconhecendo os motivos que nos levam a admirá-las, torna-se impossível não se extasiar diante delas.

Ontem, ao assistir o show de Oswaldo Montenegro, foi assim que me senti: extasiado e sem saber, ao certo, a razão.

Tenho alguns amigos que acreditam que momentos de emoção podem ser "fabricados". Basta juntar a trilha sonora correta à uma fotografia apropriada à uma catarse e... pronto! Lágrimas escorrerão feito cachoeira. Eu discordo. Isso seria restringir à uma fórmula todas as emoções em nós despertadas por determinada arte. Seria como dizer que todas as pessoas se emocionam com as mesmas coisas, da mesma forma, ao mesmo tempo, sem distinção. Improvável, não? Prefiro crer que, para levar um espectador a se emocionar com o que está vendo, o artista precisa ter talento, timing e, principalmente, sensibilidade.


Nada disso falta a Oswaldo Montenegro. Um dos grandes ícones da Música Popular Brasileira mostrou, em uma hora e meia de show, que não atingiu tal posto ocasionalmente. Dono de uma voz penetrante e poderosa, uma presença de palco assombrosa e uma simpatia cativante, Oswaldo Montenegro me presenteou com praticamente todos os maiores sucessos de sua carreira e ainda com novas canções do seu novo trabalho. Mostrou talento não apenas como intérprete mas também como músico. Em determinado momento, fez um dueto espetacular com sua habitual parceira (a flautista/tecladista Madalena Salles), mesclando música clássica com popular de uma maneira totalmente inusitada, deixando o público maravilhado e Bach, certamente, orgulhoso.

Tão emocionante, tocante e satisfatório quanto assistir à uma grande obra-prima do cinema, ter o privilégio de assistir Oswaldo Montenegro no belo (e desconfortável) Teatro Pedro II é algo que, não apenas recomendo, mas, garanto, ser imperdível, com direito a Gran-Finale e tudo!

Tentem não se emocionar!



OSS!

terça-feira, 8 de maio de 2012

KARATE KID #13: A IMPORTÂNCIA DO SENPAI


Motivo de risos óbvios em 100% das vezes em que é escutada pela primeira vez por alunos iniciantes, o termo "senpai"  (aquele que veio primeiro) é muito mais do que um simples divisor de graduações, ou algo que apenas determina a posição de cada aluno na hora do perfilamento inicial e final. Trata-se de uma importante figura no dojo, tão importante quanto o próprio sensei, pois servirá de modelo diariamente, tanto no âmbito técnico quanto no comportamental, fazendo com que os kohai (aquele que veio depois) aprendam através da simples observação, imitação e admiração do seu superior.

As tarefas do senpai em um dojo são diversas: devem estar sempre buscando o aperfeiçoamento do seu Karate para que possam servir de bom exemplo aos calouros. Mas, mais do que isso, têm a função de auxiliar o sensei nas aulas, fazer correções técnicas e de atitude que se julgarem necessárias nos iniciantes e participar mais ativamente do dia-a-dia do dojo, fazendo dele um complemento do seu lar, e de seus colegas de treino, uma segunda família.

É importante que o senpai tenha o que chamamos de postura. O que vem a ser isso? Simples, basta entrar em um dojo e observar a aula por alguns instantes para que nossos olhares se dirijam para alguém em específico. Este alguém, normalmente, é o senpai. Ele se destaca dos demais por saber exatamente a maneira de se comportar dentro e fora do dojo, e esse detalhe é fundamental. Ter consciência de que os ensinamentos do Karate não devem ficar restritos aos momentos de aula, devendo, sim, serem transportados para todos os demais momentos do dia do indivíduo, seja na escola, seja em família, seja no shopping, seja em qualquer lugar.

Essa referida postura fica caracterizada em alguns minimalismos que nem todos os cidadãos comuns conseguem distinguir, mas, certamente, conseguem, ao menos, notar e admirar, por exemplo: maneira de andar, maneira de se comportar diante das pessoas, modo de olhar, zanshin (alerta) constante, modo de sentar, de se dirigir   às demais pessoas, de dirigir o carro, enfim, é como se o Karate remodelasse todo o indivíduo substituindo os velhos maus hábitos  e desleixos por um aura de samurai.

Além disso, é importante que o senpai aprenda, desde cedo, a maneira correta de transmitir os seus conhecimentos já adquiridos. Saber que não ganhará no grito o respeito e a admiração dos kohai é o primeiro passo para isso acontecer. Portanto, a velha regra do "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", nunca se mostra uma boa escolha. O respeito é conseguido através do exemplo. O kohai deve olhar para o seu senpai e querer ser tão bom quanto ele. E, para tanto, é fundamental, também, que o senpai saiba que o aprendizado do Karate é lento e gradual, ou seja, não adianta querer dar dura em tudo que o kohai fizer de errado, ou despejar seus conhecimentos a esmo, isso normalmente acaba dando efeito contrário, terminando por afastar o iniciante do Karate por intimidação.

O senpai é aquele que se destaca por ter um natural instinto de liderança e uma voz de comando diferenciada, que faz com que todos dêem mais atenção aos ensinamentos por ele enunciados. É aquele que sabe que ainda tem muito o que aprender e, por isso, tem o devido respeito por seu sensei justamente por saber que é ele que lhe trará esses conhecimentos futuros e que lhe trouxe todos os anteriores. É aquele que sabe exatamente o momento de falar e de calar, e que tem a plena consciência de que o segundo verbo é mais importante do que o primeiro. É aquele que ama o Karate, arte marcial por nós escolhida, como de fato o é: a coisa mais importante da nossas vidas.

OSS!