quarta-feira, 14 de julho de 2010

CINEMA PARADISO #1: A SAGA CREPÚSCULO



"Saga". S.f. 1. Designação comum às narrativas em prosa, históricas ou lendárias, nórdicas, redigidas sobretudo na Islândia, nos séculos XIII e XIV.

Stephenie Meyer, escritora dos livros da "saga" Crepúsculo, nasceu em 24 de Dezembro de 1973, em Hartford, estado de Connecticut, Estados Unidos. Salvo algum desconhecimento de minha parte, penso que ela não viajou para a Islândia com o intuito de redigir suas obras. Portanto, sob essa ótica, de fato Crepúsculo não deveria receber esse título.

Por outro lado, Crepúsculo se enquadra nas primeiras características enunciadas pelo Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa, e, se fizermos vistas grossas para o pequeno detalhe de precisão geográfica e temporal, podemos sim denominá-lo de tal maneira.

O que está em questão não é se a "série" Crepúsculo é uma saga ou não. Mais relevante do que isso é, discutir a qualidade dos filmes, o assombroso sucesso por eles alcançado e a curiosa revolta despertada naqueles que não admiram a obra.

Filmes de vampiros são quase tão antigos quanto as próprias criaturas em si. Existem muitos, de todas as vertentes e variantes possíveis e imagináveis, e, certamente, ainda muitos outros virão. Pouquíssimos são dignos de menção honrosa: Entrevista com o Vampiro, Drácula de Bram Stoker e o mais recente Deixa Ela Entrar, são os que me vêm mais rapidamente à cabeça. Crepúsculo não está nessa lista.

Por outro lado, tampouco é um lixo desprezível como uma quantidade enorme de títulos o são. Blade Trinity, 30 Dias de Noite e Van Helsing, para ficar novamente nos três exemplos. Crepúsculo também não se encontra nessa.

Crepúsculo paira (!) entre esses dois mundos. A história da menina que, apaixonada simultaneamente pelo vampiro e pelo lobisomem, sofre por não saber qual decisão tomar, não é de grande originalidade, mas, creio que mãos mais hábeis não deixariam motivos para tanto descontentamento assim.

Isso é o que mais me intriga. Mais até do que a quantidade gigantesca de fãs enlouquecidas pela saga. Afinal, me parece simples entender o que atrai as (os) adolescentes aos filmes. A juventude e o pouco conhecimento sobre cinema tornam ainda mais fácil o apego à série. Sobretudo num mundo como o de hoje, que os expõe precocemente às mazelas da sociedade, à exploração desmedida do sexo e à total falta de bons valores e boa educação. Isso tudo os transformam em presas fáceis aos vampiros (!).

Intriga-me o movimento oposto. O dos que "odeiam" Crepúsculo. Essa onda sim me parece totalmente descabida. Relembro-me em 1997, quando no auge da histeria coletiva causada por Leonardo DiCaprio e seu Titanic, milhões de críticos de plantão proferiram sua sabedoria acerca da falta de talento do protagonista e da pieguice do filme. Pois bem, pouco mais de uma década depois, Leonardo DiCaprio se confirmou como um dos grandes talentos da sua geração (O Aviador, Diamante de Sangue, Ilha do Medo), e Titanic, recordista de Oscar até hoje, reconhecido como grande obra que, de fato, o é. Os críticos de plantão se esconderam.

Antes que alguém questione, não, Crepúsculo não é o novo Titanic. Longe disso. Crepúsculo é um filme fraco. O roteiro é mal-escrito, por vezes confuso (até agora estou sem saber quem feriu Jacob, em Eclipse). Os personagens são mal-explorados ou mesmo não-explorados, e quando tentou-se resolver esse problema, foi feito de maneira pobre e rala. As atuações são, no geral, empobrecidas. Robert Pattinson me parece bastante esforçado, mas pouco talentoso. Taylor Lautner me parece mais preocupado em frequentar a academia de musculação do que a de artes cênicas e cinematográficas. A única que merece um pouco mais de destaque é Kristen Stewart que nos entrega uma personagem que condiz com as expectativas: confusa, emocionalmente fraca, vulnerável, mas dona de uma beleza simples e de uma bondade única, aliás, diga-se de passagem, únicos motivos que podem explicar o fato dela fazer tanto sucesso assim com o sexo oposto.

As três mudanças na direção do longa não fizeram com que o rumo tomado pela série se alterasse. Catherine Hardwicke (Crepúsculo) e David Slade (Eclipe) se saem melhor do que Chris Weitz (Lua Nova). Este, erra terrivelmente a mão ao conduzir sua obra de maneira terrivelmente maniqueísta e covarde. Criando situações implausíveis a todo momento, tenta fazer com que o espectador se sinta compelido a torcer por este ou aquele personagem em vários momentos da trama. Não que os outros dois também não tenham feito isso, fizeram sim, mas Weitz abusa. Outra coisa, o simples fato da direção ter sofrido mudança nos três longas, excetuando-se o fato de ser alguma cláusula contratual, indica que uma das partes não ficou satisfeita com o resultado obtido. Não me espantaria em nada, se após conferirem o resultado de seus trabalhos na sala de cinema, os próprios diretores, envergonhados, se demitissem dos cargos.

Os efeitos especiais, por mais que tenham evouluido ao longo dos filmes, continuam pobres e artificiais. Não consigo imaginar, que alguém ache realmente divertido e visualmente interessante, ver vultos de vampiros correndo em meio à árvores e mato.

Dito tudo isso, me pergunto: com tantos motivos assim para concluir que, realmente, a Saga Crepúscula é de péssima qualidade, por que não o faço? Simples, pois mesmo com todos esses motivos acima citados, consigo enxergar que, no essência, Crepúsculo possui material bom o suficiente para gerar bons filmes e bons debates. Caso tivesse se focado nos dramas pessoais das personagens, nas consequências das ações destes e na interessante discussão de sexualidade que o filme (poderia) levanta(r), deixando de lado sub-tramas inúteis de lutas entre clãs de vampiros e adolescentes colegiais enfadonhos, teríamos algo de melhor qualidade. Isso já me parece motivo suficiente para não compartilhar, em nada, a opinião dos que "odeiam" a Saga.

É óbvio que eu gostaria de ter estreado minha sessão Cinema Paradiso, falando de alguma obra de que tivesse mais afeição, carinho e, também, de maior qualidade. A Saga (risos) Rocky, a Saga dos Corleone, a Saga Indiana Jones, a Saga O Senhor dos Anéis ou, até mesmo, a Saga Karate Kid. Infelizmente, a urgência do assunto em questão me compeliu por fazer tal escolha, não poderia deixar o momento passar. No fim das contas, espero ter feito uma escolha... sagaz. (!)

CREPÚSCULO (TWILIGHT, 2008) -

LUA NOVA (NEW MOON, 2009) -

ECLIPSE (THE TWILIGHT SAGA: ECLIPSE, 2010) -

OSS!

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