segunda-feira, 30 de maio de 2011

KARATE KID #8: VÍCIO

Poucas coisas são mais satisfatórias para um Professor do que ver os seus alunos tomando gosto, verdadeiramente, pela sua disciplina.

Comigo não é diferente. Lembro-me de quando era faixa branca, ou vermelha - época em que tudo ainda era novidade - sempre me pegava andando na rua fazendo Age-Uke ou Gedan Barai. Por muitas vezes, carros passavam por mim e riam pois, corretamente, achavam estar diante de algum maluco. E tinham razão. Em um belo e abençoado dia, fui acometido por um vício incurável: Karate.

Vício este, que tento, insistentemente, transmitir aos meus alunos e que me traz grande realização quando vejo que estou conseguindo. Por exemplo: é comum ver alunos que iniciam a prática do Karate por desejo dos pais ou mesmo por outras razões diversas. E, depois de um tempo trabalhando e plantando o Karate na cabeça destes alunos, começo a ver os frutos aparecerem. Aquilo que, em princípio, era apenas um hobby ou algo feito despretensiosamente, torna-se uma atividade fundamental na vida daquele indivíduo. Algo que ele, pelo resto de sua vida, desejará continuar praticando. Cria-se, assim, o amor pela Arte.

Então, me pergunto: quais seriam os fatores que geram esta transformação? 

Penso que, em primeiro lugar, encontramos a resposta no modelo de atitude transmitido pelo Sensei. Ou seja, se um aluno percebe e sente o amor que seu Sensei devota ao ensinar sua Arte, e, ao sentir isso, passa a acreditar que poderá também conseguir se tornar alguém melhor se seguir aqueles ensinamentos, assim, este aluno não poupará esforços para atingir seus objetivos. É comum, em turmas grandes, ver tais alunos se destacando, sobremaneira, em meio aos que ainda não foram "infectados".

Outro aspecto que penso influenciar bastante, é o ambiente no local de treinamentos. Se o Dojo possuir um grupo, mesmo que pequeno, de alunos com as características supracitadas, e, ainda, Senpai´s atuantes e que auxiliem o Sensei a exigir cada vez mais da turma, certo é que, com paciência e persistência, logo alunos que anteriormente freqüentavam as aulas e passavam despercebidos, tornar-se-ao novos viciados na Arte do Karate.

Por fim, e tão importante quanto as duas circunstâncias acima, encontra-se o desejo do aluno, a vontade, aquilo que no Dojo chamamos de Espírito. Por mais que seja possível moldar um aluno, transformar coisas aqui e ali, é importantíssimo que o aluno já possua dentro dele próprio esta chama. Então, caberá ao Professor cumprir sua missão de fazer com que aquela chama cresça e se torne um incêndio, tomando, é claro, os devidos cuidados para quem ambos, professor e aluno, não percam o controle sobre o fogo e se queimem mutuamente.

O mais interessante sobre este vício, é que não há cura. Trata-se de uma moléstia altamente contagiosa, cujo único tratamento é feito através de doses diárias de kimono, suor, dor e sangue. Aqueles que já se encontram contaminados devem, rapidamente, procurar o seu Dojo e iniciarem as tão queridas séries de Tsukis, Geris, Ukes e Katas, que lhes acompanharão pelo resto de suas vidas.

Costumo brincar que, para saber se alguém já se encontra contaminado, basta lhe perguntar quais são as atividades extra-curriculares ou extra-profissionais que pratica. Se o Karate for inserido no meio da resposta,  significa que o sujeito ainda não foi acometido por esta saudável doença. Ao passo que, caso ele liste apenas coisas comuns e menos importantes (claro) como inglês, informática ou circo, a chance da contaminação ter havido cresce consideravelmente. Significa que o aluno já passou a enxergar o Karate como parte real da sua vida.

Últimas perguntas: quem, em sã consciência, gostaria de ser curado? Quem não gostaria de amar algo assim?

OSS!

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