(...)
Identificado em meio à multidão nos festejos do aniversário de Buda, Takezo fora obrigado a desaparecer por completo da Vila Miyamoto. Os moradores, organizados pelo comandante do posto de inspeção conhecido pelo caricato apelido "Bigodinho-de-Arame", revezavam-se nas buscas, dia, noite e madrugada adentro, e dentre todas as pessoas que o procuravam, uma em especial julgava ter motivos de sobra para pôr as mãos nele: Osugi - a matriarca dos Hon´I´den.
Entretanto, Takezo não estava disposto a ceder facilmente. Acostumado a fazer longas peregrinações por dias, talvez semanas, e familiarizado às mazelas da guerra, não seriam duas ou três noites de fuga que o fariam cansar. (...)
Toda a rotina da Vila Miyamoto alterara-se em prol da captura de um único e inocente homem, e isso passou a incomodar um ilustre visitante que se hospedara, já há alguns dias, no templo Shippoji: Monge Shuho Takuan.
Empalidecido pela ousadia do sacristão, o comandante de alto escalão retrucara ameaçador:
- Quem pensas que és para assim falares comigo, seu insolente? Escolhas melhor o que dizeis para que não recebas ordem de prisão, quiçá execução, aqui mesmo, padreco.
Takuan mantivera por todo tempo um sorriso de canto de boca, típico daqueles que detêm o total domínio da situação e, propositadamente, apenas prorrogara o prazer intrínseco que tal discussão lhe trazia:
- Você não é capaz. Aliás, é isto que você é: um incapaz. Mesmo contando com todos os homens da aldeia, vinte e quatro horas por dia, não conseguira capturar um único e afugentado homem. Você desconhece os dizeres da Arte da Guerra, e por isso anda em círculos em sua busca, fazendo com que seu inimigo desdenhe jocosamente da sua posição. Fosse um homem letrado, saberia tudo o que Sun Tzu tem a dizer sobre o assunto, e já teria Takezo amarrado a um esticar de braços há muito tempo.
Desafiado e humilhado, Bigodinho-de-Arame, prostrara-se:
E como se apenas aguardasse esta deixa, Takuan já emendou:
- Tenho, sim. Na verdade, eu sou a sua salvação. O plano é o seguinte: você ordenará que as buscas cessem imediatamente para que os aldeões voltem a trabalhar na lavoura. Eu mesmo, Shuho Takuan, capturarei Takezo e o trarei ao povo da Vila. Peço-te apenas que me dê 72h para tal feito, e a minha única exigência é que, cumprida a missão, ficará ao meu cargo a aplicação da punição.
Aparentemente, a insolência de Takuan era infinita e apenas proporcional à segurança que demonstrara em todo o diálogo. Sem tem o que dizer, até porque já não mais sabia o que fazer para pegar Takezo, e, ainda que humilhado pelas ásperas palavras do Monge, o comandante Bigodinho-de-Arame apenas assentiu com o plano e finalizara:
- Estou de acordo, seu bonzo petulante. Mas, saiba que, se falhais, eu mesmo - Tsujikase Tenma - terei o prazer de desprender tua cabeça do teu corpo. (...)
Continua...
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Observação: este trecho não corresponde na literalidade à obra MUSASHI de Eiji
Yoshikawa. Tratam-se apenas das minhas memórias sobre a história, transcritas,
sucintamente, com as minhas palavras. Não deixem de ler o livro caso estejam gostando.
OSS!
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