sábado, 18 de abril de 2015

O ÚLTIMO GRANDE HERÓI #1: MEU AVÔ



Por um dia, por um único dia, eu ousei considerar-me parecido com meu avô.

Na foto, ele, vinte e poucos anos, o mais bonito; eu, vinte e poucos anos, o impostor. Tratava-se apenas de uma pequena tentativa de homenagear ao homem que, desde meus primeiros dias, aninhou-me em sua proeminente barriga, um dos poucos lugares do Planeta Terra onde, de acordo com a minha mãe, eu encontrava conforto suficiente para adormecer. (...)

Anos depois, vieram as intermináveis e épicas batalhas pela supremacia em "Eternia", e aqui abro um parênteses aos que desconhecem o substantivo próprio: "Eternia" é o nome dado ao planeta do He-Man, personagem-ícone dos anos 80, e que meu avô ajudou-me incessantemente a proteger contra as cruéis investidas do malfeitor Esqueleto. Foram longos e pacientes anos ao lado dele, na árdua missão de proteger o Castelo de Grayskull. (...)

Já no Colégio Marista, na sala da 1ª. série da tia Ana Maria, que localizava-se paralelamente ao extinto campo de futebol, eu, por ainda ser jovem e não sofrer de astigmatismo, conseguia avistar ao longe a figura diminuta do meu avô a me buscar, sempre impecavelmente pontual. Saíamos juntos dali e seguíamos ao Castro Salgados, (este herculeamente sobrevive), onde eu tomava a também extinta Coca-Cola Diet com alguma esfirra qualquer. (...)

Ainda no final da minha infância, primeira parte dos anos 90 - época em que os cinemas em shoppings inexistiam -, meu avô me levara para conhecer um dos seus dois empregos. Ele se dividia, orgulhosamente, entre as funções de gerente do extinto departamento de Correios e Telégrafos, e gerente de uma dezena de salas de cinema em nossa Ribeirão Preto. "Cine Santana" e "Cine Centenário" foram nomes ouvidos à exaustão por mim, e agradeço por ter tido o privilégio de conhecer de perto toda a mecânica envolvida nos bastidores de uma destas saudosas salas. (...)

Acometido há alguns anos pelo impiedoso Mal de Parkinson e admoestado severas vezes pela vida, meu avô - nem assim - perdeu por um segundo sequer uma das suas características mais marcantes: sua dignidade. Com ela, enfrentou a maior das dores que um pai pode sentir, a do luto pelo próprio filho. E, posteriormente, num intervalo semelhante ao de um piscar de olhos (para quem viveu por nove décadas), perdeu o seu grande amor: minha querida avó, mulher com a qual esteve casado por mais de 60 anos.

Ontem, tal qual o campo de futebol do Marista, a Coca-Cola Diet, as salas de cinema do centro da cidade, meu tio e minha avó, meu avô também se foi. Foi-se mas deixou aqui filhos e netos, especialmente este que vos escreve, orgulhosos de termos, com ele, compartilhado as nossas vidas, e honrados de termos feito parte da dele.

As lembranças acima apenas ilustram pontualmente uma ínfima parte de tudo que ele significou para mim. Há muito, muito mais! Mas, por ora, ficamos por aqui. É o que, no momento, me interessa lembrar e compartilhar, torcendo, claro, para que, um dia, quem sabe, se hombridade também for compartilhada através dos genes, eu possa novamente ousar considerar-me parecido com ele.

OSS!

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