terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CINEMA PARADISO #9: JUNO

"Existe...

... alguma coisa entre nós?"

É esta a pergunta que Mark (Jason Bateman) faz para Juno (Ellen Page, linda e talentosa, como sempre) em determinado momento da projeção. A partir disso, podemos concluir que Juno (2007) é muito mais do que apenas um filme de - e para - adolescentes. É uma obra maior, que retrata de maneira tocante e sensível, o universo, simultaneamente, mágico e perturbado de uma jovem que descobre estar grávida precocemente.

Neste aspecto, o filme se diferencia de demais obras do gênero, ao colocar a personagem título esclarecendo, de maneira irreverente e estiloza que, "Fazer sexo foi planejado, engravidar, não!" Com isso, o filme nos leva a olhar para Juno, não apenas como vítima, mas sim como alguém que sabe que errou, e agora tem que, de alguma forma, minimizar as consequências do que fez. Agindo desta forma, a obra se valoriza, abordando um assunto extremamente sério, com um afiado senso de humor aliado à diálogos escritos de maneira precisa e elegante, porém, sem perder de vista a realidade dura do assunto em questão.

Dito isso, vale, então, dar o devido crédito à roteirista estreante, Diablo Cody. De stripper a ganhadora de Oscar, Cody mostra que possui outros talentos além dos que, sabidamente, já eram de conhecimento público.

Porém, o filme jamais alcançaria o resultado obtido se não fosse o talento e a capacidade de Ellen Page. Ela encarna a despojada Juno com tamanha naturalidade, que muitas vezes chego a me perguntar se não seria aquele o comportamento dela na vida real. Os diálogos sempre ácidos saem de sua boca com um ar de verdade inquestionável e, ao mesmo tempo, com a insegurança típica dos adolescentes. Assim, o envolvimento de Juno com Mark - o provável pai adotivo da criança que ela está gerando - um homem bem-sucedido, mais velho e casado, não soa artificial nem implausível, visto que, o filme nos dá razões suficientes para enxergar Juno como uma menina-mulher cativante, e por que não, apaixonante.

Por outro lado, o lado infantil da personagem também é devidamente bem construído. Podemos constatar isso na brilhante cena em que Juno, acompanhada de sua melhor amiga, decide contar a verdade para o seu pai e sua madrasta: "não irei pedir nada, exceto talvez, clemência." A maneira real e insegura como ela se movimenta e hesita antes de dizer a verdade aos pais, retrata, nitidamente, a criança que ainda reside em seu corpo, cada dia mais, de mulher. Mais uma vez, méritos de Ellen Page, que soube captar, com perfeição, as difíceis nuances da personalidade de Juno.

O elenco de coadjuvantes também contribui - e muito - para o sucesso do filme. O já citado Jason Bateman consegue entregar uma atuação contida e detalhista. Michael Cera mostra o carisma habitual e a sua constante apatia cai bem ao personagem, o jovem e imaturo pai biológico da criança que Juno aguarda. Já o caricato J.K. Simmons funciona (bem) como alívio cômico constante. E, por fim, o destaque maior entre os coadjuvantes fica por conta da linda Jennifer Garner, que consegue transformar uma personagem inicialmente enfadonha e entediante em uma mulher determinada, verdadeira e preciosa.

Mas, no fim das contas, o que faz de Juno um filme imperdível, é a sutileza e a beleza de cenas como esta aí de cima. A elegância na construção de diálogos somada à sensível direção, nos proporciona muito mais do que algumas horas de entretenimento. Juno consegue nos cativar, fazer rir e chorar, e, acima de tudo, consegue mostrar que nem sempre as sábias e valiosas lições de vida e comportamento vêm dos mais velhos. Neste caso, vêm de uma adolescente pentelha que, ao seu modo, conquista todos que a cercam. Ou a assistem.


OSS!

5 comentários:

  1. Mais um ótimo texto, velhão... Vc captou a essência do filme de forma precisa.

    Vimos "Juno", eu e a Flá, pela primeira e única vez no cinema, pouco tempo depois da decepção que sofremos ao insucesso de nossa primeira gravidez. Desnecessário dizer que o filme nos emociou demais, não?

    Desde então guardo aquela experiência pra mim e por mais que morra de vontade de ir até a minha coleção e pegar o dvd pra revisitar o filme, não o fiz até agora por medo de perder esse sentimento tão particular que o filme me trás.

    Sem dúvida é um filme único pra mim. Legal ver que pra você também.

    Oss!

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  2. Obrigado velhão. Interessante constatar que vc tb tem medo de perder o sentimento particular que o filme te trouxe na primeira assistida. É o meu medo constante... No caso de Juno, a avaliação melhorou.

    Oss.

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  3. Mas que fique claro: esse sentimento muito particular eu tenho com pouquissimos filmes. "Juno" é um deles.

    Como sei que vc acompanha, não tenho dó de rever filme não. Seja o caso de atestar uma piora ou numa melhor hipótese, uma melhora do filme no meu conceito.

    OSS, velhão.

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  4. O filme é mesmo lindo e tocante. Adoro não só a forma clara e precisa com que vc se expressa, mas especialmente a maneira natural com que vc admite se emocionar com essa arte maravilhosa, que é o cinema! Parabéns!

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  5. Poxa Natalia, muito obrigado! E realmente eu não escondo de ninguém que choro e me emociono mesmo, não só com o cinema, mas com todas as coisas belas que existem por aí. Obrigado!

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