Musashi-Sama era excelente espadachim. Mais do que isso, notara, ainda jovem, que, no caminho das Artes Marciais, era necessário ter muito mais do que simples habilidade física e técnica para se destacar.
Num belo dia, decidiu que gostaria de se encontrar pessoalmente com aquele que era considerado um gênio da espada japonesa: o velho Yagyu Sekishusai, senhor do Castelo de Yagyu, um dos mais respeitados de todo o Japão.
Percorrendo o Japão no encalço do ancião, hospedou-se em muitas casas e estaleiros pelo caminho, e, em um deles, por uma incrível coincidência da vida, encontrava-se no banheiro no exato instante em que dois homens adentraram. Um deles, alto, robusto e de aspecto familiar: tratava-se de Yoshioka Denshichiro, o segundo espadachim mais importante na linhagem dos Yoshioka - outro clã de enorme respeito no Japão feudal.
Denshichiro, que acabara de tentar se encontrar com o velho Sekishusai, ainda ostentava em suas mãos uma peônia, enquanto dizia ao outro:
- Velho tolo! Atravesso o país para conhecê-lo e o sujeito sequer me atende pessoalmente.
Faz um pequena pausa e prossegue:
- Em vez disso manda que um jardineiro qualquer me entregue esta flor idiota. Eu devia saber que ele seria uma fraude. - esbraveja e, ato contínuo, arremessa a flor ao chão.
Musashi-Sama, que noutro canto escutara tudo silenciosamente, aguardou a retirada dos dois homens e foi de encontro à flor. Resgatou-a e percorreu seu olhar, maravilhado, por toda a dimensão daquela inacreditável obra da criação divina.
Entretanto, o choque maior ocorreu quando se deparou com o corte feito meticulosamente no caule do vegetal: um corte seco, transversal, preciso e, ao mesmo tempo, delicado. Musashi-Sama sabia que aquele corte só poderia ter saído das mãos de um espadachim extremamente habilidoso, visto que ele próprio sentia-se incapaz de fazer algo sequer próximo àquilo, e, maravilhado, não pode evitar o inocente pensamento que se seguiu:
"Se um simples jardineiro do Castelo Yagyu é capaz de fazer algo assim, o que dirá, então, o Mestre Sekishusai! Eu realmente preciso conhecer esse grande homem."
Musashi-Sama jamais cogitou que o corte pudesse ter sido feito pelo próprio patriarca do castelo.
Musashi-Sama ainda tinha em seu coração a pureza dos grandes artistas marciais.
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Observação: este trecho não foi retirado da obra original "Musashi", de Eiji Yoshikawa. Tratam-se apenas das memórias que foram em mim criadas sobre o referido capítulo.
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Observação: este trecho não foi retirado da obra original "Musashi", de Eiji Yoshikawa. Tratam-se apenas das memórias que foram em mim criadas sobre o referido capítulo.
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