Nas Artes Marciais, buscamos, sim, conquistas grandiosas. Porém, enganam-se os que pensam que me refiro à medalhas e troféus. Estes seriam apenas pequenas consequências naturais do treinamento e da dedicação árdua. Já os valores transmitidos marcialmente ao indivíduo, na escala de importância humana, estão e sempre deverão estar muito acima do que pesa uma medalha, que nada mais é do que um retrato momentâneo e fugaz de domínio técnico. Arte Marcial não se resume a isto.
E neste sentido, quem até hoje melhor sintetizou o sentido de uma conquista esportiva, foi um renomado Sensei da primeira geração de mestres que pisou no Brasil.
Segue a história:
Em meados da década de 70, acontecia, naquele dia, o Campeonato Brasileiro de Karate. Atletas do Brasil inteiro, diga-se de passagem, a geração de ouro do Karate nacional, disputavam, luta-a-luta, para ver quem voltaria para casa consagrado. Eis, então, que um atleta paulistano, após vencer todos os seus embates, sagra-se pela primeira vez campeão nacional. Extasiado pelo prazer da conquista, após receber a medalha, aproxima-se do seu Sensei (o que citei acima) e diz:
- Sensei, Sensei, eu consegui! Sou campeão brasileiro de Karate!
Ao que, com a frieza que só os orientais sabem ter, o Mestre responde:
- Você campeão? Campeão de quê?
- Como assim, Sensei, o senhor não viu? Venci sete lutas... aqui está a medalha...
Feito um breve silêncio, o velho Mestre prossegue:
- Hum, então você é campeão. Bom, já que é campeão, me diga uma coisa: se o torneio começasse novamente agora, neste exato momento, e você tivesse que lutar contra os sete adversários outra vez, você me GARANTE que continuaria sendo o vencedor?
Sem nem precisar pensar muito a respeito, o campeão replica:
- Não, Sensei. É impossível te garantir isso.
...
- Então você não é campeão de nada! Amanhã tem que treinar mais.
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(Esta história foi-me contada muitos anos atrás por uma pessoa que não teria, por motivo algum, razão para inventá-la. Além do que, convenhamos: ainda que haja uma certa "liberdade poética" nela, não conheço nenhuma outra mais perfeita para sintetizar o que o deve ser o pensamento de um verdadeiro artista marcial.)