segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O CARTEIRO E O POETA #12: QUERO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Vamos fazer as coisas da maneira correta e, em vez de começar o ano com as minhas pobres palavras desconectas, utilizar os belos e geniais versos, que podem ser de ano novo, ano velho, ano todo, não importa, desde que assim sejam!

QUERO

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de cinco em cinco minutos
me digas: EU TE AMO

Ouvindo-te dizer: EU TE AMO
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas
do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: EU TE AMO,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra 
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
EU TE AMO,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Bom, creio que isso seja suficiente para um ótimo 2013. Até lá.

OSS!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O CARTEIRO E O POETA #11: SONETO DA DESPEDIDA

Há muito tempo não venho conseguindo criar nada. Ao menos em palavras. Versos vêm e vão na minha cabeça, disconectos, aleatórios, disformes, confusos. Fruto, talvez, do momento. Sendo assim, estava aqui relendo tudo que já escrevi até hoje, quando me deparei com este, o primeiro de todos os sonetos que ousei compor. É claro que, naquele momento, ele cumprira um propósito determinado, mas as palavras são organismos vivos, e sua magia encontra-se na flexibilidade. De modo que, hoje, elas continuam tão reais e tão atuais como talvez nunca estiveram.

É bobinho e rasteiro como todos os outros, mas aí está:

SONETO DA DESPEDIDA

Pelo mais tumultuado sentimento da partida
Temeroso pelo incerto carinho do retorno
Tortura esta que atormenta minha vida
Não ter-te o abraço, o laço, o contorno.

Contudo hei de manter a confiança
Que cá não buscarás o esquecimento
Com força viverei cada lembrança
Levar-te-ei em cada pensamento.

E por mais longo tempo e grande distância
Se de fato achares que mereço
Por cada gesto, lágrima, sorriso

Peço-te que cultives paciência: (obediência)
Amar-te é tudo que preciso
Em cada despedida, um novo recomeço.

OSS!