terça-feira, 28 de abril de 2015

O CARTEIRO E O POETA #21: MUSASHI EM "A BESTA-FERA".



Musashi-Sama, maior Samurai da história do Japão, nem sempre vivera sob os preceitos do honrado código do Bushido. Nascido na Vila Miyamoto, filho de Shinmen Munisai, Takezo (o seu nome de batismo) desde sempre se mostrara um bravo guerreiro. Extremamente robusto, alto e forte para os padrões da época, e dotado de um espírito inabalável, ainda pré-adolescente suplantou homens com o triplo de sua idade e experiência marcial. Era visto por todos em sua aldeia como um animal, uma besta-fera. 

Ainda adolescente, aos 17 anos, aliciou seu melhor amigo, Hon´i´den Matahachi, para que o seguisse nos campos da Batalha de Sekigahara. Vigorosamente, defenderam a bandeira de seu suserano e com ela tombaram. Derrotados, foram obrigados a moribundear a esmo pelo interior do Japão, até encontrarem abrigo na casa de uma fogosa viúva quarentona, Okoo, de onde Matahachi - mesmo sabendo que sua noiva Otsu o aguardara  - nunca mais saiu. 

Contrariado, Takezo viu-se na obrigação de retornar sozinho a sua terra-natal para dar a notícia à mãe do amigo. Ele sabia que não seria nada fácil ter de encarar e dizer à velha Osugi, matriarca dos Hon´i´den, que o filho optara, por livre e espontânea vontade, por não voltar, abandonando, assim, todos os seus laços consanguíneos. Não restam dúvidas de que esta incumbência não lhe agradaria em nada, contudo, ciente de que não tivera culpa na decisão do amigo, Takezo se pôs reticente a caminhar em direção à Vila Miyamoto. (...)

O dia era festivo. A vila comemorava o nascimento de Buda em uma grande celebração popular. Em meio à multidão, um rosto surrado pelas dízimas da guerra destoava dos demais: era Takezo-San que, sujo e maltrapilho, retornara à terra-natal. Todavia, não esperava que lhe saudassem, servissem bolinhos nem saquê. Sabia exatamente da acidez de sua missão, e lograva cumpri-la prontamente. Eis que, então, num átimo de desatenção, se deixara ser avistado por ninguém menos que Otsu-San, a mais linda noiva, órfã de pai e mãe, que havia em toda a Vila Miyamoto, e que, agora, ainda tão jovem, acabara de se tornar órfã também de seu futuro marido... 

... continua. 

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Observação: este trecho não corresponde na literalidade à obra MUSASHI de Eiji Yoshikawa. Tratam-se apenas das minhas memórias sobre a história, transcritas, sucintamente, com as minhas palavras. Não deixem de ler o livro caso estejam gostando. 

OSS!

sábado, 25 de abril de 2015

O CARTEIRO E O POETA #20: SONETO DOS CEM-SENTIDOS

SONETO DOS CEM-SENTIDOS

De olhos fechados aprendi a te amar,
A confiar na verdade do que sinto,
Pois quão belo é nosso amor, não minto!
Faz-me, sem medo, a ti me entregar.

No silêncio aprendi a te sentir,
E sem sentido, de repente, tudo seria,
Se por qualquer senão, razão, todavia,
O futuro, o presente, contigo não dividir.

E se olhos, ouvidos e pele: tudo junto,
Insuficientes ainda são para mensurar,
Nem mesmo o intocável, o intangível: o conjunto.

Consigam, ao nosso amor, substantivar.
E para mais sem-palavras empregar a este assunto,
Amo-te para sempre - repito - até o último dos meus olhos fechar.

Danilo Peres


OSS!

sábado, 18 de abril de 2015

MULHER NOTA 1000 #12: SCARLETT JOHANSSON

Ah... Viúva Negra... ! 



OSS!

O ÚLTIMO GRANDE HERÓI #1: MEU AVÔ



Por um dia, por um único dia, eu ousei considerar-me parecido com meu avô.

Na foto, ele, vinte e poucos anos, o mais bonito; eu, vinte e poucos anos, o impostor. Tratava-se apenas de uma pequena tentativa de homenagear ao homem que, desde meus primeiros dias, aninhou-me em sua proeminente barriga, um dos poucos lugares do Planeta Terra onde, de acordo com a minha mãe, eu encontrava conforto suficiente para adormecer. (...)

Anos depois, vieram as intermináveis e épicas batalhas pela supremacia em "Eternia", e aqui abro um parênteses aos que desconhecem o substantivo próprio: "Eternia" é o nome dado ao planeta do He-Man, personagem-ícone dos anos 80, e que meu avô ajudou-me incessantemente a proteger contra as cruéis investidas do malfeitor Esqueleto. Foram longos e pacientes anos ao lado dele, na árdua missão de proteger o Castelo de Grayskull. (...)

Já no Colégio Marista, na sala da 1ª. série da tia Ana Maria, que localizava-se paralelamente ao extinto campo de futebol, eu, por ainda ser jovem e não sofrer de astigmatismo, conseguia avistar ao longe a figura diminuta do meu avô a me buscar, sempre impecavelmente pontual. Saíamos juntos dali e seguíamos ao Castro Salgados, (este herculeamente sobrevive), onde eu tomava a também extinta Coca-Cola Diet com alguma esfirra qualquer. (...)

Ainda no final da minha infância, primeira parte dos anos 90 - época em que os cinemas em shoppings inexistiam -, meu avô me levara para conhecer um dos seus dois empregos. Ele se dividia, orgulhosamente, entre as funções de gerente do extinto departamento de Correios e Telégrafos, e gerente de uma dezena de salas de cinema em nossa Ribeirão Preto. "Cine Santana" e "Cine Centenário" foram nomes ouvidos à exaustão por mim, e agradeço por ter tido o privilégio de conhecer de perto toda a mecânica envolvida nos bastidores de uma destas saudosas salas. (...)

Acometido há alguns anos pelo impiedoso Mal de Parkinson e admoestado severas vezes pela vida, meu avô - nem assim - perdeu por um segundo sequer uma das suas características mais marcantes: sua dignidade. Com ela, enfrentou a maior das dores que um pai pode sentir, a do luto pelo próprio filho. E, posteriormente, num intervalo semelhante ao de um piscar de olhos (para quem viveu por nove décadas), perdeu o seu grande amor: minha querida avó, mulher com a qual esteve casado por mais de 60 anos.

Ontem, tal qual o campo de futebol do Marista, a Coca-Cola Diet, as salas de cinema do centro da cidade, meu tio e minha avó, meu avô também se foi. Foi-se mas deixou aqui filhos e netos, especialmente este que vos escreve, orgulhosos de termos, com ele, compartilhado as nossas vidas, e honrados de termos feito parte da dele.

As lembranças acima apenas ilustram pontualmente uma ínfima parte de tudo que ele significou para mim. Há muito, muito mais! Mas, por ora, ficamos por aqui. É o que, no momento, me interessa lembrar e compartilhar, torcendo, claro, para que, um dia, quem sabe, se hombridade também for compartilhada através dos genes, eu possa novamente ousar considerar-me parecido com ele.

OSS!

terça-feira, 14 de abril de 2015

O CARTEIRO E O POETA #19: O TEMPO PASSA? NÃO PASSA / ♪COMO VAI VOCÊ?♪

Há pouco mais de um ano, assistia ao tradicional especial de Natal quando fui surpreendido por isto: 


O tempo passa? Não passa.
O tempo passa. 
Não passa no abismo do coração,
Lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.
Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.
O meu tempo é o teu, amada.
Transcende qualquer medida.
Além do amor, não há nada,
amar é o sumo da vida.
São mitos de calendário,
tanto o ontem como o agora,
e o teu aniversário
é um nascer a toda hora.
E nosso amor que brotou
do tempo não tem idade,
pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade!
Carlos Drummond de Andrade
OSS!

segunda-feira, 6 de abril de 2015

CINEMA PARADISO #22: ANTES DO AMANHECER


O Cinema já nos provou por diversas vezes que é possível se criar algo magistral apenas com uma câmera ligada da maneira correta e, invariavelmente, com a ajuda de uma boa trilha sonora. No fim das contas, são estas pequenas jóias raras que irão permanecer em nossa memória daqui a vinte ou trinta anos, quando os efeitos especiais já não couberem mais na tela, e tais sutilezas se mostrarem cada vez mais raras.

Neste sentido, Antes do Amanhecer é uma pequena obra-prima, concebido em pinceladas meticulosas e recheadas de significado. Jesse e Celine - os protagonistas - são, neste ballet, os exímios dançarinos que, durante 100 minutos, ornam nossas telas com seu magnetismo impressionante.

E digo "magnetismo" pois não há um segundo sequer do longa que seja descartável, e, ainda que concebido dentro de uma estrutura extremamente simples, (basicamente o filme se passa ao longo de pouco mais de 12 ou 14 horas, nas quais os atores caminham e conversam sobre a vida, tendo como "cenário" a própria cidade de Viena), em nenhum momento ele se torna cansativo ou repetitivo.

Isto, em particular, deve-se ao primoroso roteiro de Richard Linklater (Boyhood), e à sua grandiosa capacidade de escrever diálogos memoráveis  e profundos, (vide a excepcional animação "Waking Life"), sem que, com isso, se tornem enfadonhos e entediantes. Pelo contrário: a qualidade do material final é tão incrível, que se torna impossível escolher somente um trecho em específico. Porém, apenas para ilustrar, vê-se nitidamente que o material serviu como fonte de inspiração para cenas que apareceriam em longas futuros, mas que, visivelmente vieram neste aqui se alimentar, exemplo, o diálogo ocorrido em um ônibus se assemelha enormemente - em forma e conteúdo - ao similar encontrado em Closer.

Todavia, Antes do Amanhecer é, acima de tudo, um filme de amor. Ele nos presenteia com a tocante história de duas almas solitárias, que, ainda que inicialmente não quisessem passar essa impressão, ansiavam por encontrar um ao outro, na esperança de que este encontro pudesse abafar suas carências e suas necessidades mais íntimas. Donos de históricos já suficientemente povoados de acontecimentos mal sucedidos, Jesse e Celine vão se envolvendo à medida em que percebem que, mesmo tão diferentes entre si, conseguem suplantar esta barreira apenas por saberem que um "acaso" tão encantador não acontece assim todos os dias, então, na dúvida, "desça do trem".

E o amor é um sentimento tão poderoso que, além de conseguir ser captado na mais silenciosa das cenas (como a escolhida acima), é capaz de se fazer presente, ainda que não consigamos entender o que se está sendo dito. Neste sentido, e numa metáfora fabulosa, as primeiras falas proferidas no filme são em alemão, idioma este que pouquíssimos serão capazes de compreender enquanto o assistem, e, ainda que as falas não recebam legenda, somos plenamente capazes de deduzir o que está se passando, para, na sequência, servirem de ponto de partida para uma das mais belas histórias de amor da história do Cinema.

OSS!

sábado, 4 de abril de 2015

MULHER NOTA 1000 #11: NATALIE PORTMAN

Ah... Natalie... Closer, por favor!


OSS! 

O CARTEIRO E O POETA #18: FALTA

A FALTA DO SENTIR / SENTINDO FALTA

Trilha:

FALTA

Sinto falta de juízo, de preciso, de sorriso,
Sinto falta do seio, do receio, do devaneio,
Sinto falta de dormir e de acordado sonhar,
Sinto falta da nudez, da roupa,
Sinto falta da boca!

Sinto falta da loucura, da procura, da fissura,
Sinto falta do medo, do enredo, do segredo,
Sinto falta do toque e do enrosque,
Sinto falta do apelo, falta do cheiro,
Sinto falta do cabelo...

E das tantas faltas que sinto,
Sinto mais falta do que não tive – ao que tive,
Mas, acima de tudo, falta do onde jamais estive...
Pois - é duro - e certo que sobre isso não minto:
Justo eu que tanta falta sinto,
Tanta falta sinto,
TANTA FALTA SINTO!

E a falta é tanta que já nem mais sei do quê,
Então sem muito ter a fazer,
Que não estar a sentir e prosseguir a dizer,
De modo preciso, conciso, sucinto,
Que toda a falta que sinto,
É você...
É você...
É VOCÊ! 

Danilo Peres